segunda-feira, dezembro 14, 2009

Um desperdício de matéria numa vida fracassada...

domingo, outubro 18, 2009

Já devias saber (2)

O 1 é sempre o número mais solitário.

sábado, setembro 19, 2009

A forma como ela finge que não sabe o meu nome.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Já devias saber

Não se joga com o coração, joga-se com estratégia.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Lembrete

Não hesitar em começar pelo Plano B.
Como se eliminando o sintoma a doença desaparecesse.
Se celebras sozinho talvez não seja uma vitória.
Toda a gente aspira a aprisionar o coração de alguém.
Não se consegue vencer um fantasma. Podes fugir, esconder-te num sítio onde não te encontre. Mas nunca vencê-lo.

domingo, julho 19, 2009

Esperar para te ver é também recear não te voltar a ver.

quarta-feira, julho 15, 2009

A angústia da interrogação (2)

Se batermos à porta de uma vidente será que ela vai perguntar quem é?

domingo, julho 12, 2009

A angústia da interrogação (1)

Se um cão comer azeitonas será que cospe os caroços?

sexta-feira, julho 10, 2009

À terça-feira à tarde no shopping há bandos de miúdos de mochila às costas que faltam às aulas sem os pais saberem para comer gomas e gelados e subir as escadas rolantes ao contrário e há estudantes que vão para o andar de cima e se sentam na zona de restauração com cadernos, livros e volumes de fotocópias com toda a matéria para os exames que vão folheando no intervalo das águas sem gás, dos refrigerantes light, das bolachas sem açúcar, das sandes saudáveis, dos cafés com adoçante, dos pingos clarinhos, das tostas mistas, dos pastéis, das cervejas frescas, dos olhares fingidamente desinteressados, das janelas de conversação online nos portáteis com wireless, dos cigarros na zona reservada para fumadores, das trocas de contactos. Isto é na zona de restauração no andar de cima do shopping à terça-feira à tarde. No andar de baixo do shopping à terça-feira à tarde há velhos que se sentam nos confortáveis sofás de todas as cores e dormem descansadinhos como se estivessem nos sofás de casa dos filhos ao Domingo à tarde para passar o tempo até chegar a hora de voltar para o lar sob o olhar condescendente dos seguranças de auricular que começam a perder a paciência com os miúdos de mochila às costas que sobem as escadas rolantes ao contrário. De manhã dormem no lar. À tarde dormem nos sofás do shopping porque não querem ficar fechados o dia todo no lar e para ir para o parque está demasiado frio mesmo que seja Verão. Isto os velhos. As velhas não. As velhas já não saem do lar a não ser ao Domingo à tarde quando os filhos vão buscá-las para as porem a dormir no sofá lá de casa em frente à televisão ligada onde passam filmes com animais que falam, filmes com histórias de amor entre rapazes frustrados e meninas com baixa auto-estima, concursos que alternam com os mais diversificados números de artistas de variedades, programas para toda a família ou para a parte da família que adormece em frente à televisão ao Domingo à tarde. Mas os velhos, esses não ficam no lar à terça-feira à tarde e vão para o shopping onde dormem nos sofás do andar de baixo enquanto as meninas das lojas que trabalham a contrato de seis meses pelo salário mínimo e sem descontos para a segurança social conversam umas com as outras à porta das lojas e por vezes também com os seguranças de auricular porque à terça-feira à tarde no shopping há poucos clientes e é por essa razão também que os seguranças de auricular deixam os velhos dormir nos sofás. E as meninas das lojas conversam conversam conversam enquanto esperam pelo fim do contrato de trabalho para irem trabalhar para a loja do lado nas mesmas condições.

Ao Sábado à tarde no shopping há binas e toninhos que vêm de longe para passearem em casal como antigamente os seus progenitores vinham de longe para passearem ao Sol nos parques e nos jardins da cidade. As binas entram em todas as lojas de roupa e as meninas das lojas não têm mãos a medir (abençoadas tardes de terça-feira) para mostrar os diversos produtos, para procurar tamanhos diferentes, para procurar cores diferentes, para desempacotar modelos diferentes, para aconselhar, para dizer que sim, que fica bem, para arrumar os produtos desarrumados, para registar compras, para emitir talões, para dar trocos, para informar sobre trocas e garantias, enquanto os toninhos esperam por elas em frente às lojas encostados ao corrimão de braços cruzados aborrecidos e a bocejar. As binas saem das lojas com sacos de plástico, sacos de papel, embrulhos identificados com os nomes das lojas cheios de produtos comprados em saldos e em promoção que agarram juntamente com os carrinhos de bebé e as mãos das crianças arrastadas aos gritos e a tentar fugir das mãos que as tentam agarrar, a pedir prendas, a pedir brinquedos, a pedir para ir embora, a queixarem-se de dores de barriga, a dizer que querem ir ao WC, a chorar até ao momento em que se ouve o barulho de uma bofetada seguida do regresso tranquilo a casa.

Ao Domingo à noite no shopping há grupos de raparigas universitárias vestidas como personagens de programas de TV juvenis de fim de tarde exibindo sorrisos claros e brilhantes a contrastar com o tom bronzeado e brilhante da pele, sorrisos copiados das revistas, sorrisos aprendidos, sorrisos formatados, sorrisos contidos, sem exageros, como convém exibir, dir-se-ia mesmo sorrisos paralisados, com porções bem calculadas de simpatia, arrogância e auto-confiança, para impressionar grupos de rapazes universitários e outros que não são universitários, mas isso não importa, ao Domingo à noite no shopping é tudo igual, tudo gente de bem, tudo gente in, gente bonita, vestida de acordo com a norma, gente superior às binas e toninhos (estamos a falar de gente de outra casta!) de Sábado à tarde e que nem sequer se lembram dos velhos de terça à tarde e das velhas que já não saem dos lares a não ser aos Domingos à tarde quando vão dormir para o sofá de casa dos filhos, como se eles não existissem. Eles existem mas era melhor que não existissem (excepto se não pensarmos neles. Se não pensarmos neles eles não existem mesmo, desaparecem). Gente que vai ao shopping ao Domingo à noite porque assim não se cruza com essa outra gente que frequenta o shopping noutros dias da semana a outros horários, gente que vai ao cinema do shopping para manter uma vida cultural de elevado nível que consiste em ver o último filme altamente aconselhado pelas revistas de entretenimento e de pseudo-informação (revistas que falam de gente semelhante a eles) enquanto comem pipocas porque podem comer pipocas sem engordar graças às três aulas semanais no ginásio e às duas sessões no centro de estética e às consultas mensais de nutricionismo, enfim, gente que é feita de outra matéria uma matéria que não envelhece que se conserva sempre jovem e atraente.

quarta-feira, julho 08, 2009

Quem cala consente… ou então teme.
Escolher entre a pessoa que amas a pessoa que te ama é escolher entre caminhos diferentes.

sábado, julho 04, 2009

Inquérito de satisfação

No dia seguinte ela enviava sempre mensagens a perguntar se eu tinha gostado da noite anterior. Fazia-me sentir como se estivesse a responder a um inquérito de satisfação relativo a um serviço prestado.
Encontrar o Amor pode implicar teres que desistir da pessoa que amas.

O mesmo para ser feliz: pode implicar teres que abdicar da ilusão de felicidade, da própria sensação de felicidade.
Há diversos caminhos. Escolhes um. Não sabes se será esse o melhor caminho para ti, mas é esse o que tu escolhes. E vais. Mas, a certa altura, percebes que escolheste o caminho errado. Não era este o caminho que devias ter escolhido. A solução que logo te ocorre é, obviamente, voltar para trás, para o ponto de partida, e escolher um dos outros caminhos que continuam abertos. Mas estás cansada, este caminho desgastou-te, e não sabes se tens forças para fazeres o trajecto de volta. Além disso, passaram anos, décadas, desde que partiste, e perdeste todo esse tempo no caminho errado. Tempo que nunca conseguirás recuperar. Não sabes sequer se o tempo de vida que agora te resta é suficiente para recomeçar. É claro que podes sempre convencer-te a ti própria de que este é que é o teu caminho e optar por prossegui-lo até ao fim. Mas sabes que irás ter a um sítio onde não queres estar.

domingo, junho 21, 2009

Observo os seus olhares, a sua confiança e segurança, os sinais que trocam entre si. Percebo que estão combinados. Um deles baralha as cartas e distribui-as com habilidade. Olho para o meu jogo: nenhum ás, nenhum trunfo. Sei que vou perder se continuar. Decido apostar tudo.

Manual para bestas (2)

Os gatos são animais ágeis e sorrateiros que aproximam as garras dos teus olhos sem que te apercebas: deves afogá-los à nascença.

Os lobos surgem com o estrépito dos uivos da alcateia. Facilmente os detectas ao longe. Deves esperar que cresçam para os esfolar. As suas peles poderão ser úteis.

sexta-feira, junho 12, 2009

Sou como um assunto incómodo que ela vai constantemente adiando.

sexta-feira, maio 22, 2009

Uma estrela para ti

Para H

Estava no meu quarto, deitado sobre a cama, ainda acordado, a pensar no teu aniversário, sem ideias para o que te oferecer. Levantei-me, abri a janela, olhei para o céu e tive uma ideia...
Olhei em volta, para me certificar de que ninguém estava a ver, estiquei o braço e colhi uma estrela para te dar. Um deus não gostou; ficou zangado e logo enviou uns anjos ao meu encontro para que a devolvesse. Vesti-me rapidamente, antes que eles chegassem, coloquei a estrela no bolso das calças e saí a correr, em direcção a tua casa. Mas eles vieram atrás de mim; eram velozes e perseguiram-me por onde quer que eu tentasse fugir. Virei uma esquina, saltei o muro da primeira casa dessa rua e abaixei-me. Ouvi-os passar logo depois e a afastarem-se e, quando senti que estavam longe, voltei para trás. Abri o portão da garagem e meti-me no carro para ir mais rápido, até porque já estava cansado de correr. Mas eles não desistiram. Mal olhei pelo retrovisor, consegui identificá-los no carro que vinha atrás de mim a toda a velocidade. Carreguei no acelerador…
Porque se enfureceu esse deus? Terá sido assim tão grande o prejuízo de ter tirado uma estrela do céu onde, de certeza, ninguém dará pela sua falta? Aposto que nem ele deu pela falta dela! Mas como soube ele, então, que eu a tinha tirado dali? Será que me viu, apesar do meu cuidado em certificar-me de que não estava ninguém a olhar? Não, não creio que me tivesse visto. Um deus não iria gastar o seu tempo a observar os actos de simples seres humanos, como eu. Deve ter sido algum invejoso que me viu a agarrar a estrela e lhe foi fazer queixa. Sim, foi isso, de certeza!
Um cruzamento, ali à frente; o semáforo acabou de mudar para amarelo. De certeza que ainda consigo passar antes de ficar vermelho, e eles, que vêm atrás de mim, terão de parar e esperar que volte a ficar verde, e então conseguirei escapar-lhes. Acelero e… já passei! Ainda vi o semáforo a ficar vermelho. Mas… olho novamente pelo espelho e vejo que os meus perseguidores também passaram. Passaram o vermelho! Não se detêm por nada!
O carro deles é melhor do que o meu; o condutor é bastante hábil e o mais provável é que acabem por me alcançar em breve. Se me apanharem vão levar a estrela de volta e, além disso, a julgar pelo ar furioso das caras deles, pressinto que estarei em maus lençóis. O que me leva a pensar: será melhor parar, devolver a estrela e pedir desculpa pelo que fiz? Talvez fosse uma forma sensata de resolver esta situação. Mas, por outro lado, não acho que o que fiz seja assim tão grave que justifique voltar atrás e pedir desculpa. Afinal, as estrelas não pertencem a ninguém; estão ali, no céu, suspensas, simplesmente. Além de que essa decisão significaria desistir desta oportunidade de te dar uma prenda tão… tão original…, a prenda mais original que alguma vez alguém te poderia dar. E, além disso, duvido que as coisas ficassem por aí e que eles se fossem embora pacificamente, mesmo depois de terem aquilo que vieram buscar. Porque (agora ocorre-me) talvez a fúria desse deus não se deva ao meu acto de ter tirado a estrela do céu. Talvez a estrela não seja assim tão importante. Talvez haja outra razão. É possível que ele te tenha já visto e não lhe tenha agradado a minha intenção de ta oferecer, e agora queira ajustar contas comigo. Será que um deus também pode sentir ciúmes? Mas isto já sou eu a devanear (que ridículo!)… Tenho que me concentrar na condução…
Contorno mais uma rotunda, a terceira, quando se acende uma luz que me informa que o combustível está a entrar na reserva. Pelo espelho retrovisor, posso ver os anjos, imparáveis, e cada vez mais furiosos, ainda no meu encalço. Isto não está a melhorar, e pode ficar mais complicado em breve…
O sol começa a nascer; é quase manhã. Já não vejo a Lua (aliás, não me lembro de ter visto a Lua toda a noite). As luzes dos lampiões começam a desligar-se. Viro a esquina que dá para o teu bairro e… acaba-se o combustível! Saio do carro a correr; não estou longe de tua casa. Entro na tua rua que, para minha sorte, está com trânsito condicionado, por causa das obras, com acesso permitido apenas a moradores, o que obriga os meus perseguidores a sair também do carro e a continuar atrás de mim a correr. Chego à tua porta, toco à campainha; sei que a esta hora estás em casa; ainda não é hora de teres saído para o trabalho. Estás a demorar. Toco outra vez. Bato à porta com urgência. Eles aproximam-se perigosamente. Tu não vens. Volto a bater… Finalmente vens abrir, ainda em pijama, e eu precipito-me para dentro (não sem provocar em ti um pequeno grito de surpresa) e fecho a porta atrás de mim. Sento-me no sofá a recuperar o fôlego, enquanto tu falas em voz alta (e eu quase nem te ouço), provavelmente a perguntar-me porque é que eu entrei assim em tua casa, àquela hora. Olho pela janela e vejo-os lá fora, parados, a discutir. Talvez a decidir a melhor forma de entrar em tua casa. Levanto-me, perante o teu ar perplexo, levo a mão ao bolso para tirar a estrela e digo “Parabéns!”… mas… agora reparo… uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze… onze estrelas no teu pé esquerdo! Onze estrelas em espiral e uma lua no meio! Ficamos os dois calados alguns segundos. Tu à espera do que eu vou dizer a seguir e na expectativa de ver o que eu estava a tirar do bolso; eu a hesitar em tirar a estrela do bolso e à espera que me ocorra algo para te dizer. A campainha toca: são eles. Digo imediatamente: “Espera, não abras! É para mim. Estão à minha espera.” Tu continuas à espera. No teu rosto, um misto de curiosidade e de impaciência. E eu, finalmente, decido-me: “…passei aqui só para te deixar isto. Parabéns!” Tiro do bolso a estrela. Tu ficas fascinada, arrancas-me a estrela da mão, dás-me um beijo na testa, daqueles que me deixam corado e todo arrepiado, e sentas-te numa cadeira, com a estrela nas mãos, a contemplá-la. Eu tento dizer alguma coisa: “desculpa, queria dar-te alguma coisa original, aliás, pensei que ia ser original… mas… afinal, agora reparei… parece que antes de mim já alguém se lembrou… o teu pé esquerdo…”
Mas tu já não me ouvias, tão deslumbrada estavas com a estrela que te dei… a tua nova estrela… mais uma… a décima segunda. Fiquei um pouco triste de não ter sido o primeiro a pensar nisso. Paciência! A campainha voltava a tocar: eram eles. Senti que não havia maneira de escapar ao que me esperava. Mas, pelo menos, a minha missão estava cumprida, embora com um desfecho que eu não previra. “Bem, eu vou andando. Depois dou notícias” disse eu ao aproximar-me da porta para sair, quando reparei numa fotografia em cima do móvel, num passepartout que te dei num aniversário anterior. Ao teu lado, nessa fotografia, estava alguém que reconheci imediatamente: um deus! Aquele! Fiquei mais triste ainda, talvez com ciúmes, e acho que até mesmo zangado… A campainha tocou outra vez. “Tenho mesmo de ir, adeus”. Tu continuaste alheada, sem me ouvir, entretida com a tua nova estrela. Eu abri a porta e saí. Era altura de ajustar contas…

Maio de 2008
O espírito deseja, a carne cede.

Da nostalgia (1)

Deixou de tocar guitarra definitivamente, mas preservou as unhas.

terça-feira, maio 19, 2009

Naquele país as infracções à lei atingiram uma tal proporção que os tribunais deixaram de ter capacidade para dar saída aos processos que entravam cada vez em maior número e que se iam acumulando sem solução. Chegou-se ao ponto em que eram feitas sessões de julgamento colectivo de casos que nada tinham a ver uns com os outros e onde eram ditadas sentenças iguais para indivíduos que tinham cometido diferentes crimes. As actividades criminosas eram praticadas por gente de todas as classes sociais, desde o cidadão anónimo à mais proeminente das figuras públicas. Parecia que toda a população se dedicava a qualquer tipo de actividade ilegal, desde pequenos delitos à grande corrupção, todos tinham alguma mancha no seu registo criminal. Os próprios agentes e funcionários da lei e da justiça prendiam e julgavam num dia e eram presos e julgados no dia seguinte. Em pouco tempo as prisões ficaram sobrelotadas e parecia não haver maneira de arranjar solução para a multidão de condenados que aumentava de uma forma desmesurada a cada dia. Os governantes (que eram cada vez menos, uma vez que se sucediam também as suas detenções) perdiam horas e horas inúteis em reuniões donde não saíam senão resoluções ineficazes. Estavam, eles também, desorientados, cientes da sua incapacidade para lidar com a situação. Finalmente, o presidente, já em desespero, viu-se obrigado a tomar medidas extremas: ordenou a construção de grades sobre a linha da fronteira a toda a volta do país.

sexta-feira, maio 08, 2009

O amor acaba onde começa o mau hálito.

quinta-feira, maio 07, 2009

Filosofia barata (6)

Reformular a expressão “vive um dia de cada vez”: “vive meia hora de cada vez”.

sábado, abril 25, 2009

O louco ou a máscara

Duvidas que aquele homem seja realmente um louco. Aproxima-te dele e simula um gesto de agressão. Se tiver uma reacção defensiva, desmascaraste um fingidor.

Manual para bestas (1)

O homem de quem te queres vingar encontra-se naquela cidade. Não entres à sua procura. Cerca a cidade, envenena todos os rios que a atravessam, assalta todas as caravanas que a abastecem e liberta-as para seguirem o seu caminho quando todos os alimentos estiverem envenenados. Depois, espera pelo tempo seco e incendeia-a. Tens de ficar a observar à distância, de um local que permita ao teu olhar avistar todas as fronteiras da cidade, para te certificares de quem não escapa ninguém. Não podes falhar.
Uma revolução traz símbolos novos que substituem os anteriores mas que rapidamente são absorvidos por um sistema de mercado que os utiliza em seu proveito, até que já não sejam rentáveis. Chega então o momento de fazer uma outra revolução. As revoluções são boas para o mercado: refrescam-no, renovam-no, dão-lhe a dinâmica de que precisa para se manter vivo.
Uma revolução pode ser o pretexto de alguns para satisfazerem os seus instintos sanguinários.
Pode defeito meu, mas fico sempre desconfiado quando ouço falar de uniformização em democracia.
Para ela, um beijo tinha que conter uma significativa porção de ilusão (eu chamo-lhe “mentira”). Por isso, sentiu-se como que defraudada quando a beijei pela primeira vez; e nas vezes seguintes esse sentimento permaneceu. Nunca mo disse; eu adivinhei-o facilmente; já o tinha previsto, aliás. A sinceridade, por mais que esteja carregada de emoção, nunca pode ter êxito quando dirigida a alguém que persiste numa tentativa de alienação da realidade para entrar num mundo inexistente; um mundo encantado feito de sonhos e ilusões. Quanto a mim, continuo a preferir o mundo (e o amor) como ele é: desencantado, real, ambíguo, antinómico, assimétrico, inconstante, mas autêntico. Ou então, se calhar, como já alguém me tinha dito (ou acusado), sou eu que sou frio.

domingo, abril 19, 2009

Ela entregava-se de tal maneira às emoções que, no trânsito, quando lhe cediam prioridade, comovia-se até às lágrimas.

sábado, março 28, 2009

Iniciámos uma ligação afectiva por USB

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

6 coisas sobre mim

Respondendo ao desafio da Teresa aqui ficam 6 coisas sobre mim:

1. Consigo concluir apenas cerca de um décimo (provavelmente até muito menos) dos projectos (musicais, literários...) que inicio. Acho que sinto maior fascínio no acto de analisar do que no acto de criar.

2. Raramente acerto no tamanho quando compro roupa.

3. A comunicação fracassa com bastante frequência, mesmo quando falo na mesma língua.

4. Tenho o hábito de desenvolver estranhas estatísticas mentais (distribuição de vogais e consoantes nas palavras de uma frase, número de letras por sílaba, número de sílabas por palavra; ...).

5. Acordo quase sempre antes de o despertador tocar.

6. Aprecio muito a utilização do absurdo, da incompatibilidade, da incoerência propositada na arte.

sábado, fevereiro 14, 2009

Aproximámo-nos há anos atrás não pelo que somos agora, mas pelo que éramos na altura. Mudámos muito entretanto (mudámos tanto). Tornámo-nos pessoas diferentes. Tão diferentes que, nessa altura, nada do que sou hoje teria feito com que te aproximasses de mim e nada do que tu és hoje me teria feito aproximar de ti. Nada (ou quase nada) resta agora daquilo que nos atraiu um no outro. Aquilo que tu amavas, admiravas e ambicionavas em mim e aquilo que eu amava, admirava e ambicionava em ti. O tempo muda tudo, até as pessoas. O tempo trouxe-nos a mudança, mas mudou-nos de forma diferente, a mim e a ti. O tempo trouxe também a rotina e o hábito. E a rotina e o hábito tornaram possível que continuássemos juntos. Criou-se em cada um de nós uma espécie de tolerância à mudança individual que se foi realizando no outro e que, sem nos apercebermos, tornou-nos, aos poucos, incompatíveis.
Agora estamos um em frente do outro, parados, a tentar perceber o que é que nos impede de nos separarmos. A tentar perceber porque é que queremos manter uma ligação que já não faz sentido, porque é queremos persistir num jogo que foi dispensando a lógica, se tudo o que nos justificava desapareceu – não sobra qualquer rasto. O cansaço, a conformação, a necessidade afectiva e corporal, o medo do envelhecimento, da solidão, da doença?
Estamos parados, um em frente do outro, sem respostas. Sem resposta que nos esclareça porque é que já não perguntamos. E sabemos que vamos continuar a manter algo que julgamos já não carecer de justificação.
Óptimo local para passar o Dia de S. Valentim:
http://www.erosporto.com/

sábado, fevereiro 07, 2009

O último dos meus contactos no Messenger abandonou a sessão. São 6:21. Vou esperar um pouco que um dos outros acorde.