domingo, maio 16, 2010

Ronnie James Dio
(1942-2010)

quinta-feira, abril 15, 2010

Peter Steele
(1962-2010)

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Ela lê todas as minhas intenções, adivinha os meus gestos, detecta todas as minhas manobras, anula as minhas estratégias, antecipa as minhas reacções, aponta todas as minhas falhas. E eu não tento esconder nada, sou eu próprio a denunciar-me e a mostrar-me como sou.

domingo, fevereiro 14, 2010

Jogo de S. Valentim

Estou num jogo que não domino e que ela conhece desde há muito. Ela mostra-me as cartas que segura na mão: tem todos os trunfos. As opções: abandonar o jogo com a dignidade possível ou sujeitar-me à humilhação da derrota. Nem seria eu próprio se não escolhesse a segunda.

domingo, janeiro 24, 2010

O Senhor R

«O Senhor Valéry era pequenino, mas dava muitos saltos. Ele explicava: Sou igual às pessoas altas só que por menos tempo.»

Gonçalo M. Tavares


O Senhor R, pelo contrário, era bastante alto. Tão alto que se tornava difícil para ele manter-se em contacto com o mundo, o que o levava a estar sempre demasiado absorvido em si próprio, nos seus próprios pensamentos. Nos momentos em que se apercebia do seu alheamento, o Senhor R sentia não estar a usufruir das coisas que o mundo tem para oferecer, o que o levava frequentemente a cair em estados de tristeza que geralmente duravam longos períodos de tempo, durante os quais se resignava com a ideia de que nunca iria conseguir aproximar-se do mundo.
Um dia, o Senhor R observou os pequenos movimentos alternadamente ascendentes e descendentes do Senhor Valéry e interessou-se pela solução que este seu amigo idealizou para resolver o seu problema, pensando imediatamente que poderia estar perante a resposta para o seu próprio problema. Mais animado, o Senhor R experimentou saltar, exactamente como o Senhor Valéry; mas isso só o fez afastar-se ainda mais das coisas concretas.
– Nem poderia ter sido outro o resultado, – concluiu imediatamente o Senhor R, – dado serem problemas exactamente inversos.
Então o Senhor R pensou num salto ao contrário, ou seja, um salto para baixo, na direcção oposta aos saltos do Senhor Valéry; um salto que o colocasse perto das coisas concretas, mesmo que fosse apenas temporariamente. Mas um novo problema surgia: enquanto o salto para cima era facilmente concretizável a partir de um impulso apoiado no que está em baixo, algo sólido, como o chão, o salto para baixo parecia impraticável pois implicaria um impulso apoiado no que está em cima, ou seja, no ar. E o ar não tem a solidez necessária para isso, como descobriu o Senhor R enquanto procurava no ar uma zona de apoio que lhe permitisse apoiar o impulso para saltar para baixo.
Frustrado, o Senhor R começava a entrar novamente no seu habitual estado de tristeza. Até que, cansado, deixou-se cair. E, sem querer, conseguiu alcançar o seu objectivo de se aproximar do mundo.
Agora, prostrado no chão, poderia ficar satisfeito por finalmente ter conseguido o que ansiava há tanto tempo. Mas deixar-se cair não é um salto, é uma queda. E uma queda não é uma coisa temporária como um salto, mas definitiva. E o chão não é o mundo, é apenas o chão do mundo.