terça-feira, maio 19, 2009

Naquele país as infracções à lei atingiram uma tal proporção que os tribunais deixaram de ter capacidade para dar saída aos processos que entravam cada vez em maior número e que se iam acumulando sem solução. Chegou-se ao ponto em que eram feitas sessões de julgamento colectivo de casos que nada tinham a ver uns com os outros e onde eram ditadas sentenças iguais para indivíduos que tinham cometido diferentes crimes. As actividades criminosas eram praticadas por gente de todas as classes sociais, desde o cidadão anónimo à mais proeminente das figuras públicas. Parecia que toda a população se dedicava a qualquer tipo de actividade ilegal, desde pequenos delitos à grande corrupção, todos tinham alguma mancha no seu registo criminal. Os próprios agentes e funcionários da lei e da justiça prendiam e julgavam num dia e eram presos e julgados no dia seguinte. Em pouco tempo as prisões ficaram sobrelotadas e parecia não haver maneira de arranjar solução para a multidão de condenados que aumentava de uma forma desmesurada a cada dia. Os governantes (que eram cada vez menos, uma vez que se sucediam também as suas detenções) perdiam horas e horas inúteis em reuniões donde não saíam senão resoluções ineficazes. Estavam, eles também, desorientados, cientes da sua incapacidade para lidar com a situação. Finalmente, o presidente, já em desespero, viu-se obrigado a tomar medidas extremas: ordenou a construção de grades sobre a linha da fronteira a toda a volta do país.

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